
Cada indivíduo traça o seu próprio caminho, com suas próprias habilidades e peculiaridades, deixando um legado único e valioso aos olhos daqueles que observam a trajetória da vida.
Somos seres sociais livres, dotados de competências únicas que nos são concedidas por uma força superior, nos dando a liberdade de fazer escolhas que moldarão nosso destino. No entanto, somos responsáveis pelo julgamento final de nossas ações, enquanto navegamos neste mundo complexo.
Na narrativa de hoje, somos levados a seguir os passos de um simples agricultor que, sem expectativas como homem do campo, onde desfrutava da pesca no rio Manoel Velho e mantinha relações sociais na Linha Coxilha Negra, decide dar uma virada em sua trajetória ao se estabelecer na Vila.
Com filhos em idade escolar, ele precisava encontrar uma nova forma de sustentar a família com dignidade, deixando para trás a vida no campo.
Mesmo chegando em um momento de dificuldades na Vila, alugou uma casa e resolveu se aventurar como taxista, apostando em suas poucas habilidades ao volante de um Fusca.
Com sua eloquência cativante e um estilo exagerado, que acabou se tornando sua marca registrada com o famoso bordão "menos Perin", ele conseguiu conquistar uma clientela leal e fazer inúmeros amigos, mesmo competindo com outros taxistas na localidade.
Sem se deixar intimidar, levava passageiros da rodoviária, aposentados e agricultores para as cidades vizinhas, garantindo assim o sustento da família e a manutenção de seu veículo. Mesmo com os desafios, ele nunca desistiu e sempre encarou a vida com determinação e otimismo.
Em um belo dia, a vida de um senhor da vila virou de cabeça para baixo com a doença de um familiar. Sem pensar duas vezes, ele decidiu contratar uma corrida de táxi até Rondônia, a mais de 2.000 km de distância. Foram dias de viagem, cheios de histórias e experiências que enriqueceram a vida do taxista e do passageiro.
Com o tempo, a atividade de táxi diminuiu e a família precisou encontrar outras formas de complementar a renda. Assim, eles começaram a trabalhar em uma granja de suínos.
Mas o desafio não parava por aí: os filhos já crescidos precisavam seguir seus próprios caminhos.
Foi um momento difícil vê-los deixar a vila, com uma delas até indo morar em São Paulo, uma decisão que exigia coragem e determinação.
A história desse senhor e de sua família é um exemplo de superação e coragem diante das adversidades da vida. É inspirador ver como enfrentaram desafios e seguiram em busca de seus sonhos, mesmo quando isso significava sair da zona de conforto e encarar o desconhecido.
Com a emancipação da Vila, o casal viu uma nova oportunidade de recomeço. Com a ajuda de um amigo, adquiriram um fusca e ele retomou sua paixão pela atividade de taxista.
A alegria de viver voltou, com alguém para conversar, compartilhar sobre seu time de coração e até mesmo tocar flauta para os transeuntes.
Enquanto isso, a esposa encontrou um emprego na área educacional. Com as filhas formando suas próprias famílias e o filho mais velho seguindo seu caminho no interior de Palma Sola, a vida do casal retomou uma certa estabilidade e felicidade.
Tenho memórias vívidas dele, descansando ao lado da rodoviária, sentado no banco da frente do seu fusca, à espera de um passageiro, vestindo a camisa do partido político do qual ambos éramos membros. Juntos, brindamos aos filhados do nosso movimento.
Com o passar dos anos o filho mais velho, também voltou ao Município e agora vive no campo, dedicado à agricultura.
Uma das filhas voltou por um tempo, enquanto a mais velha e a mais nova permanecem distantes, mas sempre atentas aos acontecimentos locais.
O filho mais jovem, passou em um concurso público na prefeitura, tornando-se operador de máquinas, cargo que desempenha até os dias de hoje.
Após se aposentarem, o casal desfrutava de uma vida tranquila em seu bairro, com uma vista deslumbrante dos vales da Linha Pedra Lisa.
O ex-taxista permanecia ativo, sendo visto frequentemente circulando pelas redondezas, com sua eloquência característica, desfrutando de um cigarro e um gole de sua pinguinha.
Viviam uma existência simples, sem perturbar a paz alheia. No entanto, sua partida deixou a família em choque, após uma vida marcada por adversidades.
Era suposto que, após a tormenta, a calmaria se instaurasse e a retomada se iniciasse, mas a morte interrompeu esse ciclo de sonhos e esperanças. É um mistério que desafia nossa compreensão.
É imprescindível que saibamos fazer escolhas conscientes e apreciemos a vida no momento presente, valorizando as pequenas coisas que fazem parte do nosso ser.
O protagonista desta história soube viver dessa forma, pois sempre apoiou fervorosamente o seu time, construiu uma família com honra e teve a sua sepultura decorada com as cores do seu amado clube. Um gesto de amor e destaque no cemitério local, à esquerda da entrada da nova ala.
Certamente ele repousa em paz em seu eterno lar, recebendo o carinho e amor dos seus entes queridos através dessa homenagem simbólica, que perpetua a sua história.
Sua esposa, uma mulher trabalhadora e amável, continua a residir na vila, demonstrando a resiliência das mulheres italianas que encaram a vida com coragem, apoiadas na fé e na esperança de dias melhores.
Cada filho segue seu próprio caminho, recordando sempre das dificuldades e privações enfrentadas no passado.
No entanto, nunca esquecem da importância dos pais em suas jornadas, afinal, foram eles que proporcionaram vida, ensinamentos essenciais e as condições básicas para alcançarem o que são hoje.
Em um mundo marcado pelo individualismo e estreiteza de pensamento, é fundamental analisar os acontecimentos e suas circunstâncias para compreender que mesmo nas situações mais adversas, sempre há possibilidade de fazer mais.
Um Sonhador Caminhando com Francisco - Escritor do blog https://www.caminhandocomfrancisco.com/
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