HISTÓRIAS DA VILA DO POVO FELIZ (3): FAMÍLIA ANDREATTA
- caminhandocomfrancisco.com/
- 13 de set. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de fev. de 2024

Apesar das diferenças de idade, essa família sempre esteve presente em minha vida. Curiosamente, uma das crianças nasceu no mesmo dia que eu e os meninos foram meus companheiros de futebol e, assim como eu, torcem fervorosamente pelo Colorado. Nossos pais, por sua vez, eram grandes amigos e parceiros nos negócios, lutando lado a lado em um comércio local. O interessante é que, mesmo após a dissolução da parceria, as famílias continuaram se auxiliando com a mesma dedicação, mantendo o respeito e a amizade intactos.
No entanto, a verdadeira origem desta história remonta às águas abençoadas da Santa Emília-Siqueira Belo. Foi lá que essa família decidiu atracar após deixar para trás o Rio Grande do Sul, buscando novas oportunidades. Durante muitos anos, eles moraram naquela comunidade, deixando sua marca no emergente caminho religioso que se desenvolvia ali. Tudo isso graças ao prodígio realizado por uma Santa Francesa, cuja vida impactou profundamente diversas famílias.
Nossa trajetória começa a se entrelaçar por volta do ano de 1976, quando nossos corajosos pais decidiram unir suas forças em um empreendimento comercial que meus pais já possuíam na encantadora Vila do Povo Feliz. Com ambições grandiosas, eles adquiriram caminhões e garantiram um local para a futura expansão do negócio (que mais tarde se tornaria o belíssimo Lago Municipal), tudo em busca do crescimento na atividade suinícola, que estava em ascensão naquela época.
Foi um período de verdadeiro florescimento econômico para nossas famílias, além de uma enxurrada de oportunidades de trabalho. Mas como tudo na vida, após a bonança veio o declínio que afetou nossa querida Vila e cada um de nós precisou encontrar seu próprio caminho. Meus pais, seguiram com o Comércio, enquanto o pai dessa família ficou com a área do Lago e adquiriu um Caminhão FNM Caçamba, dedicando-se à construção da Usina Salto Osório para sustentar sua família.
Guardo com carinho as lembranças dessas visitas do pai da família, sempre que retornava para casa. As conversas eram permeadas de saudosismo e evocavam as dificuldades que cada um enfrentou para trilhar seu caminho. Foram tempos difíceis, especialmente para as filhas que já estavam crescidas e precisavam garantir seu próprio sustento.
Infelizmente, em um triste sábado à noite, um destino cruel se abateu sobre a família ao perder prematuramente seu Patriarca. Foram momentos de profunda dor, onde recordo vividamente da mais nova entre eles, ainda uma criança da mesma idade que minha irmã mais nova, brincando inocentemente em um balanço debaixo da casa. Na sua pureza, ela ainda não compreendia completamente a magnitude do acontecido.
No entanto, como tudo na vida, o tempo passou e aos poucos a família retomou suas atividades. Agora, enfrentavam ainda mais dificuldades, já que o principal provedor não estava mais presente para sustentá-los. Mas a mãe, uma verdadeira guerreira, uma mulher gentil com uma aparência inocente, segurou firmemente as rédeas e determinou o rumo que a família seguiria.
A filha mais velha, que ilustra essa narrativa, por exemplo, decidiu se casar e se mudar para o interior de um Município vizinho. Outra filha, por sua vez, regressou ao Rio Grande do Sul e se tornou uma professora exemplar. Uma das irmãs encontrou emprego como atendente no posto telefônico da Vila, enquanto os demais se viraram como podiam, em busca de seus próprios espaços de maneira honesta, já no final dos anos 80, eles retornaram ao seu local de origem no Rio Grande do Sul, onde, por fim, a mãe faleceu, rodeada por sua amada família.
Quando me recordo do passado, diversas memórias marcantes vêm à mente. Lembro-me vividamente do dia em que fomos a uma festa de Santa Emília e, na volta, nos encontramos em cima de um caminhão MB 1113 de cor azul, cobertos por uma lona para nos proteger do frio vespertino, enquanto enfrentávamos os solavancos das estradas precárias. Outra lembrança que me envolve é o dia em que meu pai pediu a mim e à minha irmã mais velha para buscar lenha em uma leira de uma lavoura próxima, como uma forma de auxiliar a família. Essa tarefa era um ato voluntarioso, que nos deixava encarvoados, mas cheios de alegria, especialmente eu, com meus 16 anos, dirigindo a tão sonhada F 350. Por fim, a ação que me trouxe uma imensa gratificação foi quando, na função de gestor do Município em 1999, tive a oportunidade de adquirir para o município a área que um dia pertenceu aos nossos pais. Nesse local, nós pescávamos e brincávamos em uma fonte rica de água, repleta de carpas e traíras capturadas pacientemente. Tenho nítida a lembrança das marcas deixadas na mão do meu pai ao retirar uma traíra pela manhã e colocá-la em uma lata, um corte profundo que ficou gravado em sua mão.
Tive a felicidade de idealizar e executar a obra do lago, juntamente com o engenheiro Fernando Leonardi e nossa equipe a época, e as administrações futuras tiveram a sensatez de dar continuidade, transformando esse local em um espaço de lazer quase único em nossa cidade atualmente. Que doce lembrança!
Um Sonhador Caminhando com Francisco
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